Por que famílias inteligentes estão diversificando seus ativos fora do país?

Nos últimos anos, tenho visto um movimento cada vez mais forte entre famílias empresárias e investidores de perfil patrimonial: a diversificação internacional por meio de estruturas offshore.
E não, isso não é papo de paraíso fiscal, nem apenas de quem tem fortuna bilionária.
É estratégia (cada vez mais acessível) para quem quer proteger, crescer e transferir patrimônio com inteligência.
Por que esse assunto voltou à mesa?
Primeiro, porque o mercado local já não comporta sozinho o crescimento patrimonial de muitas famílias.
A diversificação global deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade: seja pela busca de ativos mais sofisticados, seja pela instabilidade fiscal, política ou cambial do país.
Segundo, porque estamos diante da maior transferência de riqueza geracional da história recente.
Sim, os baby boomers estão passando seus bens para frente. Isso significa que a geração que está recebendo a riqueza é muito mais internacionalizada.
Jovens que fizeram intercâmbio, que conhecem mais do mercado global e que têm mais acesso a informações.
Nesse contexto, estruturas offshore vêm se consolidando como ferramentas estratégicas.
O que são estruturas offshore e para que servem?
São empresas, fundos ou trusts constituídos fora do país de residência, em jurisdições que oferecem segurança jurídica, estabilidade econômica e eficiência tributária.
Essas estruturas permitem:
- Proteger parte do patrimônio contra riscos locais
- Facilitar a sucessão internacional, com mais controle e menos desgaste
- Ter acesso a mercados e ativos globais com maior liberdade e eficiência
- Planejar a vida e o patrimônio como um todo, de forma integrada
E não, isso não é só pra quem mora fora ou está de mudança.
Mesmo famílias que seguem no Brasil têm se estruturado globalmente: com olhos no longo prazo e nos movimentos futuros.
Mas isso é só para quem tem muito dinheiro?
Essa é, disparado, uma das maiores distorções quando se fala em internacionalizar o patrimônio.
Muita gente ainda associa estrutura offshore à ideia de grandes fortunas, como se fosse algo reservado pra famílias bilionárias, com holdings complexas e uma equipe de assessores em três fusos horários. E sim, esse perfil existe. Mas está longe de ser o único.
Hoje, com um patrimônio a partir de US$ 250 mil, já é possível montar uma estrutura eficiente, com bons ativos, segurança jurídica e benefícios sucessórios reais.
E dependendo dos objetivos (como proteção cambial, acesso a investimentos globais ou preparação sucessória) é possível começar até com menos.
O ponto é que a estratégia não está só no tamanho do patrimônio, mas no momento de vida e nos riscos que você está disposto a carregar.
Já vi gente com dezenas de milhões enfrentando dor de cabeça porque adiou demais esse tipo de decisão. E também vi famílias mais enxutas, mas bem orientadas, conseguindo atravessar crises com muito mais tranquilidade.
Então, não se trata de ter muito ou pouco. Mas de ter visão de longo prazo.
Um caso real (e emblemático)
Alguns anos atrás, atendi uma família com patrimônio considerável, boa parte concentrado em imóveis e ativos locais. Fizemos um trabalho de estruturação internacional, com um fundo offshore simples, mas bem amarrado.
Pouco tempo depois, veio uma virada: mudança no ambiente político, restrições regulatórias, incerteza cambial.
O que estava fora do país seguiu preservado, líquido e com rendimento em moeda forte.
Evitaram perdas relevantes, sim. Mas, acima de tudo, ganharam margem de manobra.
Foi uma decisão preventiva. Hoje, colhem os frutos dessa prudência.
Mitos e Verdades sobre investir fora do Brasil
Quando o assunto é internacionalizar o patrimônio, surgem muitos ruídos, que podem travar boas decisões. Quero aproveitar esse conteúdo para esclarecer alguns dos mais comuns:
“O câmbio sempre desfavorece o investidor.”
Mito. A variação cambial pode sim impactar o retorno no curto prazo, mas existem estratégias inteligentes de proteção. Quando feito com critério, o câmbio pode inclusive ser uma camada extra de proteção e valorização.
“Investir no exterior significa acessar oportunidades que podem não existir por aqui.”
Verdade. Ao diversificar globalmente, você passa a ter acesso a empresas, setores e instrumentos financeiros que simplesmente não estão disponíveis no Brasil.
É como sair de uma prateleira de supermercado local e entrar num hipermercado global, com mais variedade, mais profundidade e menos dependência de um só mercado.
“Investir fora é burocrático.”
Mito. Isso era verdade há 10 ou 15 anos. Hoje, com o suporte de instituições sérias e estrutura bem montada, o processo é rápido, transparente e muito mais acessível.
O ponto de atenção é sempre buscar orientação especializada, não pela burocracia, mas pra garantir que a estrutura esteja alinhada com seus objetivos e com as regras fiscais brasileiras.
“Diversificar protege contra a inflação.”
Verdade. Ao manter todos os recursos no Brasil, o investidor fica mais exposto à inflação local, à desvalorização cambial e à instabilidade econômica.
Já um portfólio global pode proteger o poder de compra ao longo do tempo, especialmente se parte dele estiver atrelada a moedas fortes e ativos reais.
“Offshore é só sobre investimentos.”
Mito. E esse é um ponto-chave. Estruturar fora do país vai muito além de investir. Envolve sucessão, proteção patrimonial, governança familiar e planejamento de longo prazo.
Ou seja, não é só onde o dinheiro está, mas como ele está estruturado para servir à sua vida e à sua família.
Bom, deu para perceber que ignorar o cenário global pode sair caro.
Não é mais possível cuidar de grandes patrimônios olhando só pro que acontece aqui dentro.
Quer mesmo saber se está na hora de pensar nisso?
Pergunte a si mesmo: “Se algo muito relevante acontecesse no Brasil amanhã, meu patrimônio estaria protegido?”
Se a resposta for “não sei” ou “depende”, talvez valha a pena conversar com um gestor patrimonial.
Sobre mim

Juliano Pinheiro, estrategista independente de Wealth Management
Sou especialista no Mercado Financeiro, Ph.D em Finanças, professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e autor do livro: Mercado de Capitais.
Além disso, possuo mais de três décadas atuando como executivo no Mercado Financeiro, tenho grande expertise na liderança e gestão em Investment Banking, Asset Management e Wealth Management em renomadas instituições financeiras no Brasil e exterior. Atualmente, tenho foco na área de Planejamento e Gestão de Patrimônio da Família, a qual é a base para a segurança financeira, realizações de sonhos e construção de um legado duradouro.